Jack London e “O Lobo do Mar”

Última atualização: 29 de novembro de 2023.

Review sobre o livro “O Lobo do Mar” (The Sea-Wolf), do autor Jack London, um clássico da literatura universal, que conta a história do personagem Humphrey van Weyden, o qual, após um naufrágio, é resgatado pela tripulação da escuna Ghost, gerenciada pelo capitão Wolf Larsen (Lobo Larsen), passando a partir daí a participar de uma aventura marítima para caça às focas, em fins do século XIX; um romance de aventura que realiza o embate entre concepções de mundo, ultrapassando os limites de uma simples obra literária para adentrar no âmbito filosófico, realizando reflexão sobre o bem e o mal, entrelaçando os mundos do conhecimento e da realidade brutal dos marujos e piratas do mar.

A história de Jack London (1876-1916), autor de “O Lobo do Mar” (The Sea Wolf) é possivelmente quase tão emocionante e agitada quanto os personagens que o autor construiu nos romances de aventura. No início do século XX, o cinema ainda não havia se popularizado e absolutamente ninguém sonhava que um dia poderia existir algo como “Netflix”. A população, porém, precisava consumir histórias incríveis, para passar seu tempo, como quiçá ocorre em todas as épocas, e é aí que entra o talento do jovem London, que resolveu tornar-se escritor após viver aventuras pessoais frustradas, e, neste romance, entrelaça uma novela de aventura marítima com profundas reflexões filosóficas, produzindo uma obra atemporal.

Jack London, o autor1Encyclopædia Britannica, inc. (2023, February 17). Jack London. Encyclopædia Britannica. Retrieved March 12, 2023, from https://www.britannica.com/biography/Jack-London

Considerado um dos mais influentes escritores de sua época, é amplamente conhecido por suas obras de ficção, incluindo “The Call of the Wild” (Chamado Selvagem) e “White Fang” (Caninos Brancos). Além disso, ele escreveu sobre questões sociais e políticas, incluindo o capitalismo, o socialismo e a exploração dos trabalhadores. London, socialista militante, é amplamente considerado um dos escritores mais importantes da primeira geração da literatura americana moderna, sendo um dos mais traduzidos em todo o mundo, e possuindo uma obra que continua a ser lida e estudada em todo o mundo.

Em seu tempo, os métodos de impressão estavam melhorando e os editores precisavam de bons escritores e jornalistas. Jack , cujas histórias mais se confundiam com sua experiência pessoal e personagens da vida real que encontrou em sua curta jornada em vida (morreu em 1916, aos quarenta anos), após várias tentativas, conseguiu emplacar histórias sobre aventuras no Alaska, sendo aceito pelo grande público. Escreveu cerca de cinquenta livros de ficção e dezessete de não-ficção.

Iustração de William James Aylward

London nasceu em fins do século XIX. Seus pais tinham uma “clínica” na qual forneciam “assessoria espiritual” ao público supersticioso de São Francisco, na Califórnia, recebendo auxílio de um médium indígena chamado Plume.

Adotado por John London, que tinha como pai, após seu pai biológico abandonar sua família, só veio a descobrir tal fato quando adulto, pesquisando nos arquivos da cidade.

Morador de um bairro portuário, West Oakland, ainda jovem e andando pelos bares da região, cheios de marujos, chineses, italianos e estivadores que por ali bebiam, brigavam e contavam lorotas, London cresceu e conheceu inúmeros personagens, tornando-se, ele mesmo, por um certo tempo, um “pirata dos mares”, roubando crustáceos e outros frutos do mar, ganhando bem mais que em seu antigo trabalho.

Terminou mudando de ramo e embarcou no navio Sophie Sutherland, com destino ao mar de Bering, para caçar focas. Chegou a ser preso, embarcou na corrida ao ouro no Alaska (Klondike), casou-se e passou a ganhar renome como escritor. Cobriu, direto do front, a guerra russo-japonesa na Coreia e no Japão, pelo jornal San Francisco Examiner, do magnata William Randolph Hearst.

"Quando a embarcação ficou em ângulo reto com a direção das ondas, o vento (do qual vínhamos fugindo) nos pegou com toda força. Infelizmente, e devido à minha ignorância, eu estava de frente para ele. O vento me atingiu como uma parede e o ar encheu meus pulmões sem que eu pudesse expeli-lo. Eu estava sendo estrangulado e sufocado, e o Ghost soçobrou por um instante com o costado inclinado pela ondulação e pela força do vento, quando me deparei com uma vaga enorme se erguendo bem acima da minha cabeça. Virei para o outro lado, consegui tomar fôlego e olhei de novo. A onda era mais alta que o Ghost e eu a mirei de cima a baixo, cravando o olhar dentro dela. Um raio de sol trespassava a dobra da crista e meus olhos captaram um remoinho verde e translúcido por cima de uma camada de espuma leitosa.[...]"2London, Jack. O Lobo do Mar. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. Pág. 170.

Além do mais, bebeu de diversas fontes, dentre os quais Herbet Spencer, John Milton, Charles Darwin, Karl Marx, Herman Melville (Moby Dick) e Friedrich Nietzsche, os quais leu em bibliotecas públicas. Obviamente, não era uma pessoa perfeita, adotando diversas concepções hoje consideradas inaceitáveis e ultrapassadas. Confundira, infelizmente, os conceitos de luta pela sobrevivência com os ultrapassados conceitos do darwinismo social, talvez em decorrência de suas leituras nietzschianas.

Foi, por certo, um grande escritor, sendo “O Lobo do Mar” uma das suas grandes obras.

O Lobo do Mar (The Sea-Wolf)3Encyclopædia Britannica, inc. (n.d.). The Sea-Wolf. Encyclopædia Britannica. Retrieved March 12, 2023, from https://www.britannica.com/topic/The-Sea-Wolf-novel-by-London

Primeira publicação: 1904 (Editora Macmillan).

Autor: Jack London.

Idealização: durante a viagem ao Japão, em 1893, a bordo do Sophie Sutherland.

Tema: a luta pela sobrevivência numa escuna de caça às focas.

Principais personagens: Wolf Larsen, Humphrey van Weyden e Maud Brewster.

Edição lida: 2013. Editora ZAHAR.

Tradução: Daniel Galera.

Apresentação: Jack London – Muitas vidas em uma (por Joca Reiners Terron)

O livro foi datilografado, revisado e criticado pela segunda esposa de London, Charmian.

Aclamado pela crítica4Leitores, U. dos. (n.d.). O lobo do mar, de Jack London. UNIVERSO DOS LEITORES. Retrieved March 14, 2023, from https://www.universodosleitores.com/2015/06/o-lobo-do-mar-de-jack-london.html 5Resenha Especial: O lobo do Mar Por Jack London. Mundo dos Livros. (n.d.). Retrieved March 14, 2023, from https://www.mundodoslivros.com/2015/07/resenha-especial-o-lobo-do-mar-por-jack.html, inicia a trama quando o jovem Humphrey (Hump), o “herói” da trama, crítico literário, naufraga em um acidente da balsa à vapor Martinez, sendo resgatado pelo Capitão do veleiro Ghost.

Imagine você, numa viagem marítima, acidentalmente sofrer um naufrágio, sendo resgatado logo em seguida pelo capitão de um pesqueiro. Pensando que seria salvo de imediato e posto em terra firme, é obrigado a seguir com a tripulação, na qualidade forçada de convidado, para mares nunca dantes imaginados, a fim de caçar focas.

Durante o dia a dia na escuna, percebe que deve se tornar mais forte do que você nunca imaginou que seria, a fim de suportar a difícil rotina, passando inclusive a aprender princípios de navegação e relações humanas com os (literalmente) piratas do mar. Ao mesmo tempo, terás de lidar com a difícil e praticamente psicótica personalidade do chefe da embarcação, o Capitão Wolf.

"Descanso! Eu achava que conhecia o significado dessa palavra, mas estava enganado. Tinha descansado a vida toda e não sabia. Agora, porém, ficar sentado meia hora sem fazer nada, nem mesmo pensar, teria sido a coisa mais prazerosa do mundo. Por outro lado, é uma revelação. De agora em diante, poderei entender a vida dos trabalhadores. Eu não sonhava que o trabalho pudesse ser algo tão horrível. Das cinco e meia da manhã às dez da noite, sou escravo de todos e não tenho um único instante para mim, exceto quando consigo roubar um tempinho ao anoitecer, no término do segundo quarto de vigia. Se consigo parar um minuto para contemplar o oceano cintilando à luz do sol, ou para observar um marujo subir até a carangueja ou equilibrar-se no gurupés, sei que logo escutarei aquela voz abominável dizendo 'Ei, Hump, não te faz de morto. Tô de olho'."6Obra cit., pág. 79.

Os meandros psicológicos e filosóficos da trama

Interessante é mencionar que se trata de uma obra que mistura aventura, desespero e psicologia. Os personagens vêem-se às voltas com situações inesperadas e arrebatadoras, desde o caso do naufrágio do Martinez, fortes tensões decorrentes das interações humanas entres os marujos, passando pela caça às focas em alto mar, até o romance inesperado com a poetisa à bordo (Maud Brewster).

Os filósofos Nietzsche e Schopenhauer são mencionados logo no início do romance, sendo considerada obra com elevado teor filosófico, por meio da qual o autor elaborou os personagens seguindo o caminho da busca pela sabedoria; assim, por exemplo, Wolf Larsen seria uma crítica ao arquétipo do “super-homem” de Nietzsche, tendo em vista seu aspecto extremamente amoral, antissocial e tirânico, enquanto Humphrey, tido como uma “florzinha” por seus antigos amigos, se depara com uma avassaladora realidade não imaginada, vendo o quão dura é a vida dos trabalhadores.7JSTOR. (n.d.). Retrieved March 14, 2023, from https://www.jstor.org/stable/43018599

“O romance também contém referências a Herbert Spencer nos capítulos 8, 10, Charles Darwin nos capítulos 5, 6, 10, 13, Omar Khayyam nos capítulos 11, 17, 26, Shakespeare no capítulo 5 e John Milton no capítulo 26.”8Wikimedia Foundation. (2023, March 1). The Sea-Wolf. Wikipedia. Retrieved March 14, 2023, from https://en.wikipedia.org/wiki/The_Sea-Wolf 

A filosofia literária seguida pelo autor deste clássico é considerada por alguns como sendo o naturalismo, que tinha como meta reproduzir o ambiente real, ou pelo menos recortes naturais ou reais da vida e relações humanas, elaborando os personagens de maneira científica, quase laboratorial, e, neste passo, seguindo o darwinismo, desenvolvendo-os conforme as influências ambientais e hereditárias, aproximando-se de uma concepção determinística da vida, distante do chamado “livre-arbítrio”.9Roberts, Donus. «’The Sea Wolf:’ an ever-relevant classic by Jack London»The Public Opinion (em inglês). Consultado em 15 de março de 2023

No momento em que a escritora Maud adentra na trama, como um vento alísio que sopra na embarcação, passa-se a sentir uma tensão diferente entre os personagens, fruto da inesperada presença feminina em um navio de marmanjos e marujos. A introdução da personagem feminina é alvo de reprimendas infundadas de muitos críticos.

A tripulação do navio Ghost, comandado por Wolf Larsen, enfrenta uma série de desafios e problemas durante sua jornada no mar. Alguns dos problemas incluem a brutalidade e a tirania do próprio capitão, que abusa de sua posição de poder e oprime a tripulação em várias passagens. O clima hostil a bordo é agravado pela falta de comida e água potável, assim como pelo trabalho perigoso e exaustivo que é exigido dos marinheiros.

"- É como enjoo marítimo, acho. Alguns homens são suscetíveis, outros não.
- Não é assim.
- É bem assim - ele insistiu.
- A terra é tão repleta de brutalidade quanto o mar de movimento. E alguns homens passam mal sob efeito de um, outros sob efeito de outro. É o único motivo."10Obra cit., pág. 84.

A tripulação também enfrenta dificuldades relacionadas à saúde e aos acidentes a bordo, incluindo lesões e doenças ocupacionais. Além disso, eles também são ameaçados por outros navios e tempestades no mar, fatos que geram tensões e põem à prova a coragem e bravura dos personagens. Em geral, há o enfrentamento de uma série de dificuldades, entrementes, ainda precisam encontrar maneiras de sobreviver e prosseguir com sua jornada no mar, a fim de retornar à terra firme com os insumos para vender, numa batalha constante pela sobrevivência.

Wolf Larsen (O Lobo Solitário)

Wolf Larsen (wolf, em português, lobo) é o icônico personagem da trama, aquele que personifica a luta pela sobrevivência, a extrema violência, o personagem provavelmente imaginado em decorrência das leituras de Friedrich Nietzsche, Charles Darwin e de personificações reais que London conheceu em suas vivências dentre piratas. Diz-se que há algumas semelhanças com suas viagens no Sophie Sutherland.

Poster do filme The Sea Wolf (1920)

Forte, nórdico e animalesco, o capitão do Ghost mantém sua tripulação nos trilhos usando de enorme poder psicológico, decorrente de sua brutalidade e violência extrema. Isso não quer dizer que seja um homem inteiramente ruim e ignorante; na verdade, detém um vasto conhecimento de vida e leituras técnicas e clássicas, tendo aprendido de forma autodidata muito sobre matemática, ciência, literatura, filosofia e tecnologia.

Adicionalmente, apesar de ser descrito como um homem brutal e impiedoso, sem escrúpulos e determinado a manter a ordem e a disciplina a bordo do navio, é um personagem fascinante, pois apresenta uma inteligência brilhante, conhecimentos amplos e uma filosofia desafiadora.

O modo como Wolf Larsen desdenha das pessoas, seu cinismo, desprezo por direitos ou convenções sociais, momento em que praticamente prende os náufragos nas dimensões do Ghost, sem deixá-los em um porto seguro e estes passam a acompanhar, sem opções, a rotina da escuna, em situação comparavelmente próxima a servidão, as mais variadas situações e aventuras ocorrem gerando no leitor um certo desconforto e, ao mesmo tempo, empolgação para saber os próximos passos da trama.

Há de certa forma uma tonalidade de crítica ao sistema capitalista, do ponto de vista socialista, no comportamento de Wolf, visto que ele maltrata seus subordinados em vários aspectos, chegando a aparentar que deles permite a sobrevida somente quando convém aos seus lucros (existem, no entanto, profundos meandros psicológicos embutidos). A sobrevivência do capitão e sua tripulação depende da captura de focas para vender a pele em terra firme; o capitão depende de seus homens.

Outros Personagens

Ao longo da história Wolf desenvolve uma relação intensa e complexa com o narrador, Humphrey Van Weyden, que é sugado para seu universo a bordo do navio e experimenta uma jornada pessoal para sobreviver e escapar da influência opressora de Wolf, travando diálogos profundos e irradiando pensamentos filosóficos.

Por sua vez, Humphrey é praticamente forçado a se tornar duro e autossuficiente para sobreviver à vida entre os marujos em alto-mar, cuja rotina exige um exaustivo trabalho.

Nesta perspectiva, o livro percorre o arco de superação pessoal e psicológica de Humphrey, quando tirado de seu mundo cotidiano e tragado para dentro da rotina da tripulação do Ghost, após um inesperado acontecimento, assim como é por meio deste personagem que a perspectiva histórica é vista. Por meio dos pensamentos e olhos deste, a trama se desenvolve com elevado grau de maestria.

"Era uma carnificina desenfreada, e tudo para o agrado das mulheres. Ninguém se alimenta da carne ou do óleo das focas. Após um bom dia de matança, o convés ficava coberto de peles e corpos, escorregadio com a gordura e o sangue que escorriam dos embornais num caldo vermelho. Os mastros, cordas e amuradas ficavam salpintados de sangue enquanto os homens nus, com as mãos e os braços vermelhos como açougueiros destrinchando a mercadoria, trabalhavam com afinco usando as facas de pelar para esquartejar e arrancar a pele dos belos animais marinhos que tinham matado."11Obra cit., pág. 163.

Não obstante a violência e amoralidade de Larsen, ao reconhecer as potencialidades de Hump, trata-lhe muitas vezes como um filho ou aprendiz (ou, um bobo da corte, aos olhos de Hump), ensinando-lhe diversos aspectos da navegação e gerenciamento da embarcação. Wolf veste o arquétipo tanto do vilão da trama, quanto do mentor do jovem Humphrey.

Os principais personagens de “O Lobo do Mar”, de Jack London, são:

  • Wolf Larsen: Capitão do navio Ghost e personagem principal.
  • Humphrey Van Weyden: Escritor fraco de saúde que é salvo de um naufrágio e acaba se tornando passageiro no navio Ghost.
  • Maud Brewster: Uma mulher que é salva do mesmo naufrágio e também se torna passageira no navio Ghost.
  • Thomas Mugridge: Cozinheiro do navio Ghost e inimigo de Humphrey.
  • Leach: Primeiro imediato do navio Ghost.
  • Johnson: Segundo imediato do navio Ghost.
  • Louis, Holyoak e Smoke: Tripulantes do navio Ghost.

A Aventura Marítima

Muitos são os ingredientes da história. A aventura ocorre em alto-mar, típico de romances do século XIX, na qual se destaca a coragem dos personagens, sendo este espírito muitas vezes decorrente da necessidade de sobrevivência, além do relato do difícil cotidiano da embarcação; ao passo em que não poderia deixar de haver o enfrentamento de nevoeiros, ondas gigantes e tempestades, em uma embarcação relativamente frágil, de madeira, movida a vento, ingredientes estes requentados com a artimanha de um motim contra um poderoso capitão, dentre outros aspectos novelescos.

"Apostaram dinheiro. Foram aumentando o valor das apostas. Beberam uísque, beberam até acabar, e precisei buscar mais. Não sei se Wolf Larsen trapaceou, coisa de que seria totalmente capaz, mas ele ganhou quase todas. O cozinheiro foi diversas vezes ao quarto pegar mais dinheiro. Lançava-se a cada nova jornada com crescente fanfarrice, mas nunca trazia mais que uns poucos dólares. Foi ficando cada vez mais à vontade, cada vez mais sentimental, e mal conseguia enxergar as cartas e manter a posição na cadeira. Prestes a empreender nova jornada ao quarto, enfiou o dedo gorduroso num buraco de botão do casaco de Wolf Larsen e não apenas proclamou como reiterou:
- Tenho dinheiro, tenho dinheiro, tô dizendo, e sou filho de um nobre.
Wolf Larsen não sofria o efeito da bebida, mas entornava cada copo junto com o cozinheiro e inclusive parecia caprichar mais nas próprias doses. Nada nele se alterou. Não parecia nem estar se divertindo às custas do outro."12Obra cit., pág. 94.

Quando os homens descem em alto-mar, à procura das focas, em botes frágeis diante do enorme poder da natureza, e não retornam, perdem-se, ou não mais são encontrados, a face do perigo aparece bastante clara.

Desenho do capitão Wolf Larsen, publicada pela Century Company, NY, 1921

Sim, os náufragos passam a ser alvo do temperamento inoportuno e psicótico de Wolf Larsen, gerando no leitor um sentimento de angústia, e nos personagens a possibilidade de ultrapassarem o limite psicológico e convencional, por muitas vezes querendo ou sonhando em matar seu superior e opressor.

Spoiler

Muitos criticam a presença na parte final do romance de Maud, a personagem feminina que passa a atrair Humphrey e Larsen. Contudo, o SCRIBASE não concorda que London tenha errado neste quesito: o objetivo do romance foi alcançado. A personagem vem justamente para trazer Humphrey de volta ao seu mundo, após o difícil aprendizado no mundo de Wolf. Talvez fazer de Humphrey um pirata dos mares fosse o desejo de alguns críticos, porém, ele esteve lá para aprender, superar-se e ser mais forte ao retornar para casa. Será que ele consegue retornar?

O quociente psicológico e filosófico do livro se sobressai em diversas passagens.

“O Lobo do Mar”, por fim, é uma obra de ficção realista que retrata as condições de vida difíceis e perigosas dos marinheiros e piratas no século XIX, bem como uma reflexão profunda sobre questões éticas, morais e filosóficas.

Adaptações ao Cinema e veredicto

Várias foram as adaptações para o cinema deste clássico, dentre as quais a de 1913, 1920 e 1926 (cujas cópias foram perdidas), todas estas certamente em domínio público, além de posteriores e mais modernas, inclusive uma de 1993 (para a TV), estrelado por Christopher Reeve (de Superman) e Charles Bronson, entretanto, nenhuma se tornou um blockbuster.

O SCRIBASE não localizou estas obras cinematográficas antigas, em domínio público, na Internet. Caso algum leitor localize-as, favor postar o link correspondente, ou nos fornecer por mensagem.

Uma grande aventura marítima escrita pelo magnífico London, expert em aventuras e psicologia prática, leitor de diversos clássicos de sua época, merecendo ainda uma adaptação cinematográfica à altura.

A leitura deste clássico vale muito a pena, entrando na categoria de clássicos universais indispensáveis.

———-Fim———-

Post Scriptum:

  • Nota do SCRIABSE ao livro: 9,3.
  • Gravuras em domínio público; atribuições: Wikimedia Commons: aqui e aqui;
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