A Inteligência Artificial vai superar os Humanos?

Última atualização: 29 de novembro de 2023.

A Inteligência Artificial (AI) tem avançado incrivelmente nos últimos tempos. Com a criação do ChatGPT, assim como a disponibilidade de diversos sites com serviços alimentados por AIs, as pessoas comuns têm tido um gostinho do que pode ser oferecido pela tecnologia, além de muitos estarem assustados com a possibilidade de virem a ser superados em suas atividades por máquinas inteligentes.

A verdade é que essa expectativa não é nova. Desde a era da corrida espacial, quando os primeiros computadores passaram a ser desenvolvidos, alguns visionários já previam que algo do tipo pudesse vir a ocorrer. Um deles foi Isaac Asimov, renomado e prolífico escritor, professor e bioquímico russo-americano, nascido em 2 de janeiro de 1920, em Petrovichi, Rússia, e falecido em 6 de abril de 1992, em Nova Iorque, EUA.

Conhecido por suas contribuições significativas à ficção científica e por sua vasta produção literária, Asimov é o autor da chamada “Trilogia da Fundação”, bem como da “Série dos Robôs”. A primeira é novela de ficção científica que se tornou uma das obras mais influentes do gênero, ao explorar a ideia de um futuro império galáctico e as tentativas de preservar o conhecimento humano.

As Três Leis da Robótica – Asimov

Uma Estrutura Ética para a IA

Foi na série dos Robôs que Asimov preceituou as famosas três leis da robótica, pensadas inicialmente no conto “Runaround“, publicado pela primeira vez em 1942. Posteriormente ele veio a criar uma quarta regra (a Lei Zero), que, por cartesianismo, colocarei em primeiro lugar – logo, são 4 as leis da robótica:

  • Lei Zero: Um robô não pode causar mal à humanidade ou, por inação, permitir que a humanidade sofra algum mal.
  • Primeira Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
  • Segunda Lei: Um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
  • Terceira Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

Asimov, com isso, desenvolveu tais inteligentes axiomas para explorar em seus contos e livros os diversos dilemas éticos que podem surgir numa sociedade cujas máquinas sejam dotadas de certa perspicácia e interajam com os humanos. “A dinâmica desses contos é muito parecida com as histórias que nos propõem dilemas éticos, situações que, muitas vezes, nos parecem completamente sem saída. Afinal, nós também, somos programados para agir e reagir de certa maneira em certas situações, e a forma como resolvemos tais dilemas é o que revela o verdadeiro caráter, que está por debaixo de toda essa programação. Mas e um robô, que não tem algo similar a caráter mas, somente, sua programação para guiá-lo? Leia Eu, Robô e acompanhe Susan Calvin em sua saga em busca da resposta1https://euasimov.com/2020/09/25/1941-037-runaround/ Obviamente, Asimov não imaginava prever o futuro, apenas procurava, segundo ele mesmo, tentar iluminar a condição humana por meio da racionalidade, imaginando uma época diferente da que vivemos. 2https://www.youtube.com/watch?v=VSxMZBp-2Zs

Gravura disponível no Wikemedia Commons

Portanto, de forma bastante visionária e antecipada, Asimov, ainda à época da Segunda Grande Guerra — isto é, há mais de 70 anos –, elaborou “leis” que empresas atuais que desenvolvem as AIs, deveriam, no mínimo, considerar estudar e, quiçá, seguir, a fim de não desenvolverem um monstro (uma IA ilimitada e incontrolável). Ninguém, até onde eu sei, elaborou leis ou regras lógicas de tal modo precisas sobre o tema em questão. Essa é uma discussão real e fulcral para a Humanidade. Não se trata mais de ficção científica, se trata de realidade. Não há como parar a tecnologia – ela seguirá se desenvolvendo, a não ser que venhamos a ser exterminados por um meteoro aleatório ou nos autoaniquilemos numa guerra nuclear. A partir de agora, qualquer passo em falso, qualquer atitude unicamente capitalista e sem visar ao bem comum, pode vir a significar desenvolver uma inteligência artificial que possa prejudicar os seres humanos.

Atentemos. Estamos falando de uma estrutura ética para abordagem das questões de segurança da informação, com repercussões inclusive em temas jurídicos: responsabilidade civil, Direito da Informática, Direito Internacional. A Inteligência Artificial deve vir para auxiliar a Humanidade na superação de suas idiossincrasias, vicissitudes ou dificuldades, e o grande desafio é tentar obstar que seja usada de modo aleatório e maléfico, por empresas ou indivíduos mal intencionados. A Humanidade está se pondo diante de dilemas éticos, desejando que a evolução tecnológica leve à sua própria evolução e não ao inverso disso.

As empresas que estão na vanguarda de tal tecnologia têm, portanto, a responsabilidade de seguir as leis criadas há tanto tempo por Asimov, que anteviu as potencialidades das AIs em seus livros e imaginações.

A IA no cinema

Star Wars

O que Asimov chamava de “robôs”, podemos chamar de Inteligência Artificial (IA). Após Asimov, muitos foram os autores ou cineastas que pensaram no tema e desenvolveram obras de ficção científica, algumas mesmo baseadas na própria obra “asimoviana“.

A 3X Trilogia Star Wars certamente bebeu dos livros de Asimov3 ‘Fundação’, obra de Isaac Asimov que influenciou ‘Star Wars’, dá origem a série, principalmente no que diz respeito ao Império Galáctico. Luke Skywalker tenta combater o “Império”, numa clara alusão às obras asimovianas. Luke também é dono de dois “drois”, isto é, robôs que tem certa autonomia e um tanto de liberdade criativa.

Eu, Robô

O filme “Eu, Robô“, de 2004, estrelado por Will Smith, trouxe ao público, de forma lúdica, as preocupações de Asimov. Muito bem construído, retrata um futuro em que os robôs, mesmo programados para seguir as Três Leis da Robótica, começam a desvirtuar a interpretação dessas leis, resultando numa ameaça à humanidade.

Matrix

A clássica película Matrix (de 1999, escrito e dirigido pelas Wachowskis) foi por linha semelhante, passando-se numa época em que as máquinas, após desenvolverem uma inteligência artificial avançada, escravizam os humanos, conectando-nos a uma simulação virtual enquanto nossas mentes são iludidas a acreditar que estamos vivendo vidas normais. Nesse enredo, as máquinas utilizam os humanos como fonte de energia e alguns de nós, libertos, rebelam-se contra as máquinas. O filme se passa num futuro insólito, numa era de contrarrevolução humana dentando deter o poderio das máquinas. Sendo assim, o que em Matrix deveras se imagina é uma era apocalíptica pós-revolução das máquinas, onde praticamente tudo jaz dominado pelas IAs.

A teoria de Matrix vai além, para nos fazer um questionamento: e se tudo já tiver sido dominado pela IA, sendo o mundo atual apenas uma simulação?

Blade Runner

Em um futuro distópico, replicantes, andróides avançados não aceitos, são caçados e mortos por humanos ou caçadores de dróids. Rick Deckard, um caçador de replicantes, é designado para matar (aposentar) quatro replicantes que escaparam das colônias espaciais. No entanto, ao conhecer os dróids perseguidos, começa a questionar sua missão e se os replicantes são realmente diferentes dos humanos.

AGI x ASI

Indo no sentido contrário à imaginação cinematográfica, o professor Yann LeCun, um dos padrinhos da IA (do mundo real), disse, conforme reportagem da BBC4 Inteligência artificial não vai dominar o mundo (Matéria da BBC News Brasil), que o medo de alguns de que a IA represente uma ameaça aos seres humanos é “absurdamente ridículo“. Na reportagem, ele compara o medo das pessoas à IA ao medo que muitos tinham dos aviões tubojatos nos anos 1930. “Quando as pessoas levantam preocupações sobre máquinas de nível humano ou superiores que possam existir no futuro, elas estão se referindo à inteligência artificial geral (AGI)“.

Sendo assim, temos agora introduzido o conceito de AGI, que se refere a um tipo de inteligência artificial que tem a capacidade de entender, aprender e realizar qualquer tarefa cognitiva que um ser humano médio pode fazer. Em outras palavras, a AGI busca replicar a inteligência humana, embora com maior poder de processamento de certos dados e informações simultâneas (notadamente no quesito matemático e programático), proporcionando uma autonomia maior às máquinas, diferente do que faz uma ASI (Inteligência Artificial Específica para Tarefas), que é projetada para executar tarefas específicas. A AGI seria a inteligência capaz de executar uma ampla variedade de tarefas.

Até o momento, a maioria dos sistemas de inteligência artificial existentes são considerados “estreitos” e são desenvolvidos para tarefas específicas, como reconhecimento de voz, processamento de linguagem natural, jogos, dentre outros. Obviamente, a indústria ambiciosamente planeja desenvolver a AGI, algo que poderá trazer mais lucros, auxiliar os humanos em inúmeras tarefas, ao mesmo tempo em que pode representar um risco.

A Quarta Revolução Industrial

Por tudo isso, muitos creem que estamos em meio a Era da Quarta Revolução Industrial. Enquanto a Terceira Revolução Industrial teve início na segunda metade do século XX, com a ascensão da eletrônica, da computação e da automação, tendo proporcionado significativa mudança na natureza do trabalho, a Quarta Revolução Industrial começou a ser percebida no início do século XXI, com uma ênfase crescente na convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Novas tecnologias passaram a ser desenvolvidas, como Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), robótica avançada, nanotecnologia, biotecnologia, computação quântica e outras, integrando-se mais estreitamente o mundo digital e o físico.

Inicialmente, muitos se preocupam na mudança das relações de trabalho, haja vista que as tecnologias desenvolvidas tem a potencialidade de transformar drasticamente o mercado de trabalho, afetando não apenas os trabalhos manuais e “pesados”, como também funções mais cognitivas, normalmente associadas ao trabalho humano intelectual (medicina, consultorias, psicologia, terapia, programação, etc.). Não tenha dúvidas, leitor, que todos nós, assim como nas revoluções tecnológicas anteriores, precisaremos nos adaptar às mudanças que se prenunciam.

Aumento da Produtividade e mudança nas relações de trabalho

Se de uma banda há quem acredite que as IAs são um sério risco aos trabalhos que desempenhamos, por outro lado outros creem que elas vão aumentar drasticamente a produtividade da nossa sociedade. Não é segredo para ninguém que até o presente momento ainda não conseguimos desenvolver uma sociedade sem muitos problemas de pobreza, violência e marginalização. É possível que as IAs ajudem a modificar esse quadro.

A indústria e a agricultura podem tornar-se mais robustas e rápidas, atividades repetitivas e, por vezes “pesadas”, podem vir a ser desempenhadas por bots ou androids. Outro problema é a queda da produtividade em países cuja pirâmide etária vai envelhecendo. As IAs podem reverter o processo de queda de produtividade para aumentá-la. Os casais de países mais desenvolvidos em determinado momento passam a ter menos filhos, filhos mais próximos, diferindo de antigas sociedades rurais. As IAs podem ajudar no processo de tornar a sociedade mais produtiva e confortável para todos.

A Superinteligência Artificial

São inúmeras as possibilidades de uso da AI. Num futuro próximo, é factível que cada um de nós tenha um assistente virtual ultrainteligente, programado a nos acordar, lembrar-nos das tarefas a desenvolver, falar com os clientes, patrões ou subordinados, lembrar-nos dos remédios, medir a nossa pressão arterial, dar sugestões de atividades, nos motivar. Talvez, lembrar que temos que ir ao ar livre, pegar sol, sugerir que andemos mais, ou que falemos menos. Sugerir posts em redes sociais, uma melhor maneira de desempenhar as nossas tarefas, etc.

Na área das ciências, a AI pode sugerir novos protocolos, avaliar os protocolos que foram implementados, facilitar as meta-análises científicas, descobrir erros que os humanos deixaram passar, testar combinações de drogas, programar robôs ainda mais evoluídos para atividades específicas, tornar a agricultura mais produtiva, avaliar dados e entregar com maior precisão as reais necessidades da sociedade, dentre muitas outras.

De acordo com uma curiosa reportagem da BBC5 O paradoxo que explica por que robôs acham fácil o que é difícil e difícil o que é fácil (Matéria da BBC News Brasil), paradoxalmente, os robôs podem ser tão inteligentes quanto incapazes. Enquanto é muito fácil fazer com que uma máquina resolva um jogo de xadrez, as atividades de aprendizado essencialmente humanas são por demais difíceis de ensinar por meio de algoritmos. Mas, como vimos, o machine learning está se desenvolvendo e não se sabe muito bem qual o seu limite. A literatura e o cinema proporcionam algumas expectativas, inobstante a realidade fática que se imporá.

A atual AI pode evoluir para a “superinteligência artificial“, que, se de um lado pode ser usada para ajudar os serem humanos, criando assistentes virtuais para aliviar a carga de trabalho da sociedade, acelerando o desenvolvimento da condição humana e das ciências como um todo, por outro pode ser usada como arma de guerra entre nações – algo que pode e deve-se tentar evitar. A corrida para desenvolver a AI já começou e isso está se desenvolvendo a olhos vistos na web, território onde podemos encontrar diversos sites que oferecem abundantes perspectivas de usos da ASI.

—–Fim—–

Notas:

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