Modelo R-36M2 no Pavilhão do Museu de Tecnologia de Mísseis em homenagem a S.P. Korolev, Academia Militar das Forças de Mísseis Estratégicos em homenagem a S.P. Pedro, o Grande, Balashikha, região de Moscou, Rússia

A Crise dos Mísseis de 1962 e o relato de Robert F. Kennedy

Última atualização: 14 de março de 2023.

Ou, Como Sobrevivemos e Escapamos dessa Enrascada

A Crise dos Mísseis de 1962, também chamada de “Crise dos Mísseis de Cuba”1Wikimedia Foundation. (2023, March 7). Cuban missile crisis. Wikipedia. Retrieved March 12, 2023, from https://en.wikipedia.org/wiki/Cuban_Missile_Crisis, foi um dos eventos mais marcantes da Guerra Fria, que teve início em 18 de outubro de 1962 e durou cerca de treze dias, até que um acordo de paz fosse finalmente alcançado (28 de outubro do mesmo ano).

Apesar de curta, foi bastante intensa e crucial para as relações internacionais e para a própria existência da raça humana. Seu início deu-se quando os Estados Unidos da América descobriram, por meio de fotografias tiradas a partir de um voo espião, que a União Soviética havia instalado mísseis nucleares em Cuba, a apenas 90 milhas da costa americana, pondo em potencial risco milhões de norte-americanos.

Cuba – uma vista aérea do local de lançamento de mísseis balásticos de médio alcance de San Cristobal número dois. 1º de novembro de 1962 (Foto da Força Aérea dos EUA)

Anote-se que tal crise ocorreu após a chamada “Invasão da Baía dos Porcos” (1961), operação fracassada da CIA, arquitetada durante o governo Eisenhower e autorizada pelo Presidente Kennedy, com cubanos refugiados que tentavam uma insurreição contra o governo de Fidel Castro, e considera-se que um dos fatores a levar a esta crise foi a presença de mísseis balísticos dos Estados Unidos PGM-19 Jupiter instalados na Itália e na Turquia (portanto, próximos a fronteira da União Soviética).

A crise também ocorreu às vésperas das “eleições de meio de mandato” para a Câmara dos Representantes e um terço do Senado, o que provocou certa irritação do Presidente Kennedy, tendo em vista que muitos o criticavam por não adotar uma abordagem mais incisiva quanto à questão cubana.

O Voo Espião2Evans, M. (n.d.). The Cuban Missile Crisis, 1962: The photographs. Retrieved March 12, 2023, from https://nsarchive2.gwu.edu/nsa/cuba_mis_cri/photos.htm

O voo espião que detectou os mísseis soviéticos em Cuba foi feito pela aeronave Lockheed U-2 (Dragon Lady, um avião de reconhecimento que voa em altas altitudes), pilotada pelo major da Força Aérea dos Estados Unidos, Richard Heyser. Em 14 de outubro de 1962, Heyser sobrevoou Cuba em uma missão de reconhecimento aéreo, com o objetivo de encontrar evidências da instalação de mísseis soviéticos na ilha. Enquanto voava a uma altitude de cerca de 21 quilômetros, ele detectou a presença dos mísseis em fotografias de alta resolução tiradas pela câmera de bordo.

A descoberta de Heyser foi o ponto fulcral para que o governo dos Estados Unidos tomasse a decisão de confrontar a União Soviética sobre a presença dos mísseis em Cuba, deflagrando a crise. A aptidão do U-2 em capturar imagens detalhadas de áreas remotas e secretas tornou-se uma ferramenta valiosa para o reconhecimento aéreo durante o período da Guerra Fria, em benefício dos Estados Unidos.

Treze Dias que Abalaram o Mundo

Autor: Robert F. Kennedy

Tema: Crise dos Mísseis de Cuba (1962)

Edição lida: 2022; Editora: Citadel, Porto Alegre/RS, Brasil

Tradução: Caio Pereira

Prefácio: Arthur Schlesinger, Jr.

Posfácio: Richard E. Neustadt e Graham T. Allison

O livro “Treze Dias que Abalaram o Mundo” é um relato de um dos participantes do ExComm (Executive Committee of the National Security Council), o irmão do Presidente John Fitzgerald Kennedy, o Procurador-Geral dos Estados Unidos naquela ocasião, Robert Francis Kennedy, acerca de como o governo norte-americano tomou conhecimento de mísseis balísticos na ilha cubana, possivelmente equipados de armas nucleares, que poderiam pôr em risco a estabilidade das relações internacionais àquela época.

Os personagens envolvidos nessa crise foram diversos, cada um com seus próprios interesses e objetivos. Do lado americano, o presidente John F. Kennedy, que contou com o apoio do ExComm, composto por seu irmão Robert Kennedy, Procurador-Geral, assim como pelo Secretário de Defesa, Robert McNamara, que, junto aos demais membros, ajudaram a liderar a resposta militar dos Estados Unidos.

Do lado soviético, o líder Nikita Khrushchev desempenhou um papel crucial, tentando equilibrar a necessidade de proteger os interesses soviéticos com o desejo de evitar uma guerra nuclear.

EXCOMM

O Executive Committee of the National Security Council (ExComm) foi um comitê executivo criado pelo presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, durante esta famigerada crise. Sua criação ocorreu em 16 de outubro de 1962, um dia depois que Kennedy foi informado sobre a presença de mísseis soviéticos em Cuba.

Era composto pelo próprio Presidente dos Estados Unidos e pelos principais assessores de segurança nacional e membros do governo de Kennedy, incluindo o vice-presidente Lyndon B. Johnson, o secretário de Estado Dean Rusk, o secretário da Defesa Robert McNamara, o conselheiro de Segurança Nacional McGeorge Bundy, o Procurador-Geral Robert F. Kennedy, dentre outros.

O objetivo do comitê era aconselhar Kennedy e ajudá-lo a tomar decisões cruciais durante a crise. Os demais membros do ExComm foram:

  • O Diretor da CIA John McCone;
  • O Assistente do Presidente para Assuntos Nacionais Carl Kaysen;
  • O Conselheiro Especial Theodore Sorensen;
  • O Conselheiro Econômico Walter Heller;
  • O Subsecretário de Estado George Ball;
  • O Subsecretário de Defesa Roswell Gilpatric;
  • O Secretário Adjunto de Estado para Assuntos Interamericanos Edwin M. Martin;
  • O General Maxwell Taylor, conselheiro militar de Kennedy;
  • Houve, devido a necessidade de informações, análise e assistência, a inclusão de vice-secretários e até secretários-assistentes mais relevantes, como Paul Nietze, da Defesa.
  • Havia, também, membros suplentes, alguns deles oficiais, como Dean Ancheson (ex-Secretário de Estado) e Robert Lovett (ex-Secretário de Defesa, ambos do governo anterior de Eisenhower).

O ExComm se reuniu diariamente durante a crise, discutindo informações de inteligência, opções políticas e militares e fornecendo análises de risco. O livro de Robert Kennedy detalha exatamente essas reuniões, como foi possível traçar um plano de ação em resposta aos atos soviéticos, as análises de risco, a estratégia diplomática para envolver outros países por meio da Organização dos Estados Americanos, OTAN e ONU etc.

O comitê considerou opções que variaram desde um ataque militar total contra Cuba, ou um ataque cirúrgico, até uma solução diplomática negociada com a União Soviética. A decisão final foi de um bloqueio naval de Cuba, conhecido como “Quarentena de Cuba”, que foi imposto pelos Estados Unidos em 22 de outubro de 1962, a fim de impedir a chegada de mais mísseis soviéticos à ilha.

“Na manhã seguinte, na reunião que fizemos no Departamento de Estado, houve discordâncias pungentes mais uma vez.  O esforço e as horas sem dormir começavam a cobrar seu preço. No entanto, mesmo muitos anos depois, essas fraquezas humanas - impaciência, ataque de nervos - são compreensíveis. De cada um de nós se requisitava que fizesse uma recomendação que afetaria o futuro da humanidade, recomendação essa que, se fosse equivocada e aceita, poderia significar a destruição da raça humana. Esse tipo de pressão faz coisas estranhas com um ser humano, mesmo com homens brilhantes, autoconfiantes e experientes. Para alguns, ela evidencia características e força que talvez nem eles soubessem que tinham, e para outros a pressão é esmagadora demais.”3Kennedy, Robert F. Treze Dias que Abalaram o Mundo. Porto Alegre, Citadel, 2022. pág. 34.

Nas reuniões do Conselho, McNamara posicionou-se inicialmente a favor de uma solução diplomática, e, posteriormente, dada a pressão por uma solução mais enérgica, passou a argumentar a favor do bloqueio ou quarentena. Formou-se uma coalizão com Robert Kennedy e Sorosen. Por outro lado, o Estado-Maior Conjunto argumentava a favor de um ataque aéreo maciço, que teria como consequência a invasão da ilha e a deposição de Fidel Castro.

ST-A26-25-62 29 October 1962 Executive Committee of the National Security Council meeting. Clockwise from President Kennedy: President Kennedy; Secretary of Defense Robert S. McNamara; Deputy Secretary of Defense Roswell Gilpatric; Chairman of the Joint Chiefs of Staff Gen. Maxwell Taylor; Assistant Secretary of Defense Paul Nitze; Deputy USIA Director Donald Wilson; Special Counsel Theodore Sorensen; Special Assistant McGeorge Bundy; Secretary of the Treasury Douglas Dillon; Attorney General Robert F. Kennedy; Vice President Lyndon B. Johnson (hidden); Ambassador Llewellyn Thompson; Arms Control and Disarmament Agency Director William C. Foster; CIA Director John McCone (hidden); Under Secretary of State George Ball; Secretary of State Dean Rusk. White House, Cabinet Room. Photograph by Cecil Stoughton, White House, in the John F. Kennedy Presidential Library and Museum for the image.

Do lado soviético, sabe-se que havia em Cuba mais de 40 mil tropas (na época, a CIA havia estimado em apenas 10 mil), além de cerca de cem mísseis equipados com ogivas nucleares, de curto e médio alcances, estando, também, pré-autorizado o uso de bombas atômicas táticas em caso de perda de comunicação com Moscou e invasão norte-americana.

O livro, ao descrever as reuniões e como Kennedy conduziu a crise, a ativa participação dos personagens, inclusive em seus momentos de fraqueza psicológica, é uma aula de gestão de risco, análise de informações, política governamental e diplomacia de crise, indispensável àqueles que almejam altos cargos ou querem apenas estudar e se familiarizar com os métodos de resolução de crises possíveis em países democráticos, aplicável mesmo a grandes instituições.

As Negociações

Durante as negociações, houve vários fatores em jogo, incluindo a necessidade de garantir a segurança nacional dos Estados Unidos e a defesa dos interesses soviéticos em Cuba.

Robert relata que seu irmão, o Presidente do Estados Unidos, sempre teve em mente adotar um plano de ação que não chegasse a impor uma humilhação aos soviéticos, colocando-se no lugar deles e nos possíveis atos e pensamentos de Kruschev, deixando sempre aberto uma rota para que este pudesse retroceder, apesar de deixar transparecer totalmente a posição norte-americana de não aceitação de mísseis próximos de seu território, evitando-se assim a catástrofe nuclear, em ações cuja estratégia foi possivelmente inspirada no líder militar britânico Basil Liddell Hart (Deterrent of Defense), conforme asseverado no prefácio escrito por Arthur Schlesinger, Jr. (vencedor do Pulitzer de História de 1966, foi historiador, escritor e político norte-americano, assistente especial do Presidente Kennedy).

É interessante observar que dos dois lados os respectivos líderes nacionais contavam com a pressão da “linha dura” das respectivas forças militares, as quais entendiam ser inevitável um confronto direto entre as duas grandes potências.

Presidente Kennedy assinando a ordem de bloqueio naval a Cuba, durante a Crise dos Mísseis.

O presidente Kennedy, portanto, após diversas discussões do ExComm, seguindo a linha estratégia de contenção de conflitos, com o objetivo inegociável de conseguir a retirada dos mísseis instalados em território cubano, impôs o citado bloqueio naval em Cuba para impedir a chegada de mais mísseis soviéticos à ilha, enquanto a União Soviética ameaçou retaliar com um ataque nuclear caso os Estados Unidos invadissem o território cubano.

Atente-se que o bloqueio dos Estados Unidos foi inicialmente naval, com a implantação de navios de guerra em torno de Cuba para interceptar qualquer navio soviético que tentasse entrar no país com armamentos. A maioria desses navios eram cruzadores, contratorpedeiros e navios de assalto anfíbios. Alguns exemplos incluem o USS Essex, USS Forrestal, USS Independence, USS Enterprise, USS Wasp, USS Newport News, USS Joseph P. Kennedy Jr., USS Barry, USS Cony, USS Beale, entre outros.

Além disso, navios de apoio logístico e de inteligência também foram utilizados. No entanto, posteriormente, houve também um bloqueio aéreo, com a interceptação de aeronaves soviéticas que tentavam entrar em Cuba com armamentos. O bloqueio foi uma forma eficaz de pressionar a União Soviética a retirar os mísseis e as ogivas nucleares que haviam sido instalados em Cuba.

"O general David M. Shoup, comandante dos fuzileiros navais, resumiu o sentimeno de todos: 'Você está numa enrascada, Sr. Presidente'. O presidente respondeu em seguida: 'Você também está, junto comigo'. Todos riram, e, sem uma decisão final, a reunião foi adiada."4Obra cit., pág. 28.
PX 96-33:12 03 June 1961 President Kennedy encontra-se com o Primeiro-Ministro Khrushchev na U. S. Embassy residence, em Vienna. Fotografia pertencente ao U. S. Dept. of State no John Fitzgerald Kennedy Library, em Boston.

O livro apresenta as diversas correspondências entre o Presidente Kennedy e o líder Kruschev, como se deu o processo de elaboração de discursos e respostas, por meio de cartas, a informação da situação aos líderes do Congresso e à população, as tensões envolvidas, as dúvidas e debates acerca dos próximos passos que seriam dados, em exíguo espaço temporal, além do relato da imensa responsabilidade dos participantes visando às sugestões ao Presidente, tendo em vista que, qualquer erro de cálculo poderia levar a uma conflagração de resultados apocalípticos.

Em meio a essa tensão, houve um incidente que quase levou a uma escalada ainda maior do conflito: um avião americano U-2 foi abatido sobre Cuba, restando na morte do piloto (o mesmo que havia participado da missão secreta que havia descoberto os mísseis) e intensificando ainda mais as preocupações com uma guerra nuclear iminente.

O Lado Soviético

O embaixador soviético na época da crise dos mísseis de Cuba era Anatoly Dobrynin. Ele era um diplomata experiente e tinha uma relação próxima com o presidente dos EUA, John F. Kennedy. Durante a crise, Dobrynin teve um papel importante nas negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética. Inicialmente, negou que a URSS tivesse a intenção de instalar mísseis em Cuba, o que decepcionou o Presidente Kennedy, que já sabia do processo de construção das instalações. Além dele, Fidel Castro e Nikita Khrushchev, outros personagens soviéticos importantes na crise dos mísseis de Cuba foram:

  • Andrei Gromyko: era o Ministro das Relações Exteriores da União Soviética na época e desempenhou um papel crucial nas negociações com os Estados Unidos. Ele era visto como um moderado e, em vez de apoiar a instalação de mísseis em Cuba, ele preferia uma solução diplomática para a crise;
  • Aleksandr Fomin: era o representante militar soviético em Cuba durante a crise dos mísseis. Ele supervisionou a instalação dos mísseis soviéticos e, em caso de ataque dos Estados Unidos, teria sido responsável por autorizar o uso das ogivas nucleares;
  • Sergei Khrushchev: filho de Nikita Khrushchev, era um engenheiro que trabalhava no programa de mísseis soviético. Esteve presente nas reuniões em que seu pai tomou a decisão de enviar os mísseis para Cuba e, mais tarde, escreveu um livro sobre a crise dos mísseis, oferecendo uma perspectiva interna sobre os acontecimentos.
O presidente Kennedy se encontra com o embaixador soviético Andrei Gromyko no Salão Oval. O presidente, mas não revela que agora está ciente do acúmulo de mísseis.

Durante a crise dos mísseis de Cuba, houve uma disputa entre os líderes soviéticos sobre como lidar com a situação. Alguns eram a favor de uma abordagem mais conciliatória, enquanto outros eram mais duros e a favor de uma abordagem militar. Entre os líderes militares soviéticos da linha dura durante a crise dos mísseis de Cuba, podemos citar:

  • Marshal Sergei V. Semyonov – Era o comandante das forças de mísseis estratégicos soviéticos nesta época. Foi um forte defensor da implantação dos mísseis em Cuba e pressionou Kruschev a não ceder às demandas americanas. Após a crise, ele foi nomeado vice-ministro da Defesa da União Soviética;
  • General Issa Pliyev – Era o comandante das forças soviéticas em Cuba durante a crise. Foi responsável por liderar as forças soviéticas na ilha, incluindo as unidades de mísseis, aéreas e navais. Pliyev também se opôs às concessões de Kruschev e insistiu que as forças soviéticas não deveriam recuar;
  • Almirante Sergei Gorshkov – Era o comandante da Marinha Soviética durante a crise dos mísseis. Foi responsável por liderar as forças navais soviéticas no Atlântico e no Caribe, que incluíam submarinos nucleares. Gorshkov também se opôs a qualquer concessão aos americanos e pressionou Kruschev a manter os mísseis em Cuba.
"Eram dez e pouco da manhã. O secretário McNamara anunciou que dois navios russos, o Gagarin e o Komiles, estavam a poucos quilômetros de nossa barreira de quarentena. A interceptação dos dois navios ocorreria, provavelmente, antes do meio-dia, horário de Whashington[...]".5Obra cit., pág. 54.

Tais líderes militares soviéticos representaram uma importante facção dentro do governo soviético que defendia uma abordagem mais agressiva na crise dos mísseis de Cuba. Seus pontos de vista influenciaram a decisão de Kruschev de implantar os mísseis em Cuba e a resistência soviética às demandas americanas.

O Final Feliz e suas Consequências

Finalmente, depois de treze dias de negociações intensas, um deslinde pacífico foi alcançado: a 28 de outubro de 1962, a União Soviética concordou em remover seus mísseis nucleares de Cuba, em troca de um compromisso dos Estados Unidos de não invadir a ilha e de remover seus próprios mísseis nucleares da Turquia. O papel de Fidel Castro nesse acordo foi limitado, ficando o mesmo frustrado com a decisão soviética, dado que considerava ser um direito de Cuba manter tais aparatos militares na ilha.

É interessante observar, também, que a ideia de instalação dos mísseis nucleares em Cuba, assim como a construção de suas instalações pelo governo soviético foi dos próprios soviéticos, tendo Castro concordado apenas depois de intenso debate com o líder Nikita Khrushchev, numa reunião secreta, ocorrida a Julho daquele mesmo ano.

A crise dos mísseis em Cuba resultou em dois acordos importantes entre os EUA e a União Soviética:

  • O primeiro acordo, conhecido como Acordo de Moscou, foi assinado em 1963 e previa a instalação de um telefone direto entre Washington e Moscou, conhecido como a “linha vermelha”. Essa linha de comunicação direta serviria como uma forma de evitar mal-entendidos e reduzir as chances de uma guerra nuclear acidental;
  • O segundo acordo foi o Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares (TPPT), assinado em 1963. Este tratado proibiu testes nucleares atmosféricos, subaquáticos e espaciais, mas permitiu testes nucleares subterrâneos com uma potência de até 150 quilotons. O tratado foi um passo importante para reduzir a tensão entre as superpotências e diminuir a ameaça de uma guerra nuclear.

O livro relata a impressão de Kennedy de que qualquer erro de cálculo ou mal entendido entre ele e o líder soviético, ou mesmo um acidente qualquer de maior gravidade (algo comum no meio militar), poderia resultar numa escalada dos conflitos que nenhum dos dois líderes poderia conseguir controlar. Tese semelhante foi escrita no excelente Posfácio por Richard E. Neustadt e Graham T. Allison, quando traçam exatamente o desencadear do conflito caso os soviéticos não tivessem anunciado a retirada dos mísseis em 28 de outubro.

Provavelmente até o 13 de novembro teria sido desencadeada uma cadeira de acontecimentos que levaria a uma possível Terceira Guerra Mundial e ao desastre nuclear. Calcula-se que na primeira hora do conflito com mísseis armados de ogivas nucleares morreriam 100 milhões de soviéticos e 100 milhões de norte-americanos.

"O presidente ordenou ao ExComm que se reunisse de novo às nove da noite na Casa Branca. Enquanto datilografavam a carta e a preparavam para a transmissão, eu e ele nos sentamos na sala dele. Ele falou sobre o major Anderson e como é sempre o cora- joso e o melhor que morrem. Os políticos e os oficiais ficam sentados em casa, pontuando sobre grandes princípios e questões, tomam as decisões e jantam com a esposa e a família, enquanto o corajoso e o jovem morrem. Ele falou sobre os erros de cálculos que levam à guerra. A guerra raramente é intencional. Os russos não desejam lutar tanto quanto nós. Não querem guerrear conosco, e nós não queremos com eles. E, no entanto, se os eventos continuassem como estavam nos últimos dias, a batalha - que ninguém desejava, que não resultaria em nada - engolfaria e destruiria toda a humanidade."6Obra cit., pág. 87.

Uma consequência posterior e indireta desta crise e da corrida armamentista foi o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), aberto para assinatura em 1º de julho de 1968 e que entrou em vigor em 5 de março de 1970. Ele foi negociado durante o final dos anos 1960 como uma tentativa de controlar a proliferação de armas nucleares e promover o desarmamento das nações que possuíam tal tecnologia de guerra.

O tratado estabelece compromissos para os Estados nucleares (aqueles que possuem armas nucleares) para trabalharem em direção à eliminação dessas armas, enquanto obriga os Estados não nucleares a não buscar ou desenvolver armas nucleares. O TNP é um dos tratados com maior adesão de nações na área de desarmamento e controle de armas.

A crise dos mísseis foi possivelmente o momento mais perigoso da História da Humanidade, causando incertezas e gerando forte discussão acerca do chamado “Paradoxo Nuclear” (Existe alguma circunstância ou justificativa que dá ao governante de uma nação o direito moral de levar seu povo e possivelmente todas as pessoas do planeta Terra à hecatombe nuclear?), sendo considerada uma situação que poderia ter levado a uma guerra nuclear impensável: a Civilização Humana ficou por um fio de sua total aniquilação.

A guerra poderia ter iniciado nas praias cubanas e ter resultado num holocausto nuclear. No entanto, graças às negociações rápidas e cuidadosas e ao compromisso de todas as partes envolvidas, uma solução pacífica foi encontrada, sendo possível a este autor, sessenta anos após os fatos, escrever o presente texto.

A liderança corajosa de Kennedy e Kruschev, bem como a habilidade diplomática de Robert Kennedy, McNamara e Dobrynin, foram fundamentais para evitar uma catástrofe global.

O livro (Treze Dias que Abalaram o Mundo) é indispensável para aqueles que querem ter uma visão mais clara dos acontecimentos daquela época.

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Post Scriptum:

Referências:

Alguns links sobre a Crise dos Mísseis de Cuba:

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1 comentário em “A Crise dos Mísseis de 1962 e o relato de Robert F. Kennedy”

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